30 setembro 2006

Ensaio sobre a surdez - Parte I

De algum tempo a esta parte, tenho observado mais atentamente à minha volta, e a mim mesma, no intuito de compreender os motivos que justificam a dificuldade de nos fazermos entender e, consequentemente, aceitarmos e irmos ao encontro das solicitações do outro.

Simultaneamente, constato que todos parecemos cada vez mais convictos das nossas certezas, das nossas verdades, e daí ser cada vez mais difícil abdicarmos das nossas convicções e exigências.

E, independentemente da quantidade, da qualidade pragmática e/ou da autenticidade dos argumentos que suportam as nossas motivações, o resultado é, com frequência, o mesmo – não sermos compreendidos.

Quase instintiva e instantaneamente nos sentimos desrespeitados, ofendidos, maltratados, ignorados, humilhados, etc,etc,etc.

E quase invariavelmente, também, concluímos que a culpa, a responsabilidade do que estamos a sentir, leia-se sofrer, é do outro, simplesmente porque não “respondeu”, não resolveu, não agiu de acordo com as nossas expectativas, as nossas prioridades, as nossas necessidades.

Porquê???!!! Indignamo-nos. Era tão óbvia a nossa necessidade!

Pergunto-me hoje: Serão assim tão óbvios para os outros os nossos sentimentos? Serão assim tão transparentes algumas das nossas tão veladas, e algumas delas tão inconsciente e secretamente guardadas, necessidades? Terão os nossos interlocutores compreendido realmente o(s) nosso(s) pedido(s)?

Não! Se assim não fosse, sentir-nos-íamos mais satisfeitos, mais realizados, mais felizes. E não teríamos, então, tanta necessidade de acusar. De gritar!

Acusar? Gritar? Eu acusei?! Eu gritei?!

Provavelmente não.

E provavelmente sim.

(continua)

2 comentários:

Anónimo disse...

“É o observador que faz a obra”.
Marcel Duchamp

“O meio é a mensagem”.
Marshall McLuhan

Anónimo disse...

Agradecia que explicasse, por favor, a relação entre o texto publicado e estas citações...