"Sem querer entrar em campos intimistas ou em exposições autobiográficas, porque não é este o objectivo fundamental deste artigo, apenas desejo refletir e partilhar um pouco a minha visão e os meus sentimentos sobre a descoberta que fiz, há cerca de 10 anos, sobre a Comunicação Não Violenta (CNV) e as técnicas ou método a ela subjacentes.
Graças a Thomas D'Ansembourg e a Marshall Rosenberg, apercebo-me quanto ainda tenho de aprender sobre a Comunicação, tanto no seu sentido lato como nesta particularidade: a comunicação como meio de abertura e de empatia!
Este novo olhar sobre o mundo que nos rodeia, a vida, o outro, desenvolveu em mim uma diferente capacidade autocrítica até hoje desconhecida. Nos vários papéis que desempenho no quotidiano, encontro a aplicabilidade prática desta nova forma de comunicar, de me relacionar com o outro e até comigo próprio.
Percorrendo as várias páginas dos livros daqueles autores, extraimos um potencial imenso de transformação positiva e de algo novo para as nossas relações pessoais, familiares, profissionais.
Enquanto professor, apercebo-me do benefícios significativos que posso adquirir para mim e oferecer aos alunos e aos meus colegas nas escolas, ou em ambientes empresariais por onde vou passando. Estas potentes ferramentas mentais, aplicadas pela fala e pelas ações, ajudam-me a compreender a raiva, o conflito, e auxiliam-me na sua resolução, melhorando as relações com mais empatia!
Embora muito simples nos seus princípios, o processo em quatro fases da CNV é extremamente poderoso para melhorar radicalmente e para tornar verdadeiramente autênticas as nossas relações com os outros, e connosco próprios. É-nos proposto um caminho de liberdade, de coerência e de lucidez! Como não acredito na punição ou no castigo como meio de melhorar a nossa relação com o outro, prefiro percorrer novos caminhos.
Muitas vezes, perante um conflito, as pessoas tentam comunicar, persistindo na atitude ou no tom de acusação, de raiva, de intimidação, culpabilização e de desresponsabilização.
O tom exalta-se e as palavras soltam-se com uma facilidade terrível! Este comportamento impulsivo vive e está latente em nós. Temos muita dificuldade em coabitar com o conflito e reagimos inconscientemente.
"Si je réprime ce qu'il faudrait que j'exprime, je déprime!" Esta belíssima frase proferida por Thomas D’Ansembourg retrata, de facto, o perigo da contenção dos nossos sentimentos e necessidades: "se reprimir o que deveria exprimir, deprimo". Porém, se exprimo os meus sentimentos e necessidades da pior forma, também corro o risco de magoar e de sofrer.
É fundamental encontrarmos, então, o espaço de reencontro connosco próprios, antes de dizer umas "boas verdades" ao(à) nosso(a) companheiro ou companheira. Precisamos de mergulhar nos "lençóis freáticos" das nossas necessidades e dos nossos sentimentos, identificá-los e exprimi-los correctamente, com um vocabulário claro e bem explícito.
Ainda temos muito para aprender! É difícil aprender um novo idioma, a "língua dos sentimentos e das necessidades"? É, sim, mas vale mesmo a pena…
Tem-se falado e recomendado muito a necessidade de aprendermos várias línguas para podermos viajar e contactar com novas culturas. A verdade é que há um outro idioma que devemos acrescentar às nossas vidas: a língua da não violência. Com ela, ficamos munidos das melhores ferramentas para podermos coabitar com os outros, aceitando as suas culturas, os seus costumes e diferenças. Só assim saberemos construir um novo continente: o da Paz."
— José Paulo Santos
Segunda de Maio / Primeira de Junho 2016 | A Voz de Cambra |
1 comentário:
muito bom! parabens!
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