08 novembro 2006

Humilhação: acto ou efeito de humilhar

Na semana passada, numa reunião de Conselho de Turma do qual faço parte, ouvi algo que me fez estremecer e que gostaria de partilhar.
Analisava-se (professores, representante dos Encarregados de Educação e respectivos Delegado e Sub-delegado) e reflectia-se sobre o comportamento indisciplinado de grande parte dos alunos que compõem a dita turma.
Na tentativa de encontrar soluções/ estratégias para resolver, ou pelo menos melhorar, o funcionamento das aulas, questionei os alunos presentes sobre quais seriam, na sua opinião, os procedimentos mais eficazes por parte dos professores no sentido de evitar que alguns dos seus colegas perturbassem sistematicamente as aprendizagens a desenvolver, uma vez que as medidas até agora implementadas se tinham revelado infrutíferas.
Foi então que, com toda a naturalidade, um deles me respondeu:
" Eu acho que os professores, quando os alunos estão a perturbar a aula, deviam
humilhá-los... Podia ser que eles se envergonhassem e mudassem de comportamento."
Pensei que tinha ouvido mal e confirmei a resposta que me fora dada.
Não sei se mais alguém se chocou com o que ele dissera. Talvez não.
Ninguém questionou o aluno, e intervim novamente:
"Se eu humilhar os teus colegas, eles responder-me-ão com melhores atitudes?! Que direito tenho eu de me defender, se, a seguir, um deles me responder com um gesto igualmente humilhante?! Sim, porque desse modo dou-lhes também o direito de me humilharem, não achas? "

E, de entre os adultos presentes, alguém, então, me respondeu:
" Claro! Se eu me portar mal, eles também têm o direito de me humilhar! Além disso, posso dizer que, há tempos, isso funcionou. Um colega da turma estava a portar-se mal, eu humilhei-o, e ele acalmou logo!"

A reflexão continuou. Não sei o que pensam os restantes participantes sobre o assunto.
Apenas sei e sinto que que não quero ir por aí!
Estou agora consciente que, sem nos darmos conta, reproduzimos, eu incluída, modelos altamente geradores de violência.
A humilhação pode momentaneamente dissuadir uma pessoa, mas por quanto tempo? Cairá no esquecimento daquele aluno?
Creio que não. Devolvê-la-á ao professor ou a outro qualquer na próxima oportunidade.

E assim vamos gerando e recebendo, gerando e recebendo, vivenciando e ensinando violência, dor, incompreensão.
Quando conseguiremos interromper este processo de herança-transmissão de respostas violentas para a resolução dos nossos problemas?
É urgente a comunicação não violenta!
É urgente aprendermos a mediar conflitos na escola!

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